"As figuras imaginárias têm mais relevo e verdade que as reais" Fernado Pessoa
Bruce Wayne era o filho e herdeiro do maior magnata de Gotham City (sátira de chicago). Tinha apenas 10 anos quando seus pais foram assassinados em um assalto. Essa história você conhece, já foi contada e recontada por uma infinidade de quadrinistas e cineastas: Bob Kane, Frank Miller, Tim Burton, Christopher Nolan. Cada um acrescenta aquilo que acha relevante para seu tempo e para o mito que se pretende criar. Bob Kane criou o Batman distante da realidade, iverossímil, desumanizado, era quase um novo Super-homem. Um milionário que fabrica os equipamentos responsáveis por torná-lo o justiceiro da cidade. Quem seria capaz de se identificar com tal figura? A morte de seus pais era apenas um motivo, uma desculpa do roteirista pra justificar a tranformação de Bruce Wayne.
Frank Miller trouxe outro ponto de vista, ele tinha uma visão mais completa, queria retratar a ascensão e queda do morcego. Em "Ano Um" ele nos traz uma formação psicológica do herói. Bruce Wayne não poderia ter medos se quisesse enfrentar os bandidos de Gotham. Por isso escolhe o morcego como representante, era seu maior medo e precisava ser superado. Miller escreveu também "Cavaleiro das Trevas" que assim como "A Queda do Morcego" mostra um Batman fragilizado pela idade.
Tim Burton e Christopher Nolan foram ambos importantíssimos para o mundo cinematográfico dos quadrinhos. O primeiro foi quem abriu as portas para as possibilidades de adaptação do gênero. Criou dois filmes de qualidades, realçando não o psicológico (como faria Nolan 15 anos depois) e sim a bizarrice e extravagância de seus personagens. Assim foi o coringa de Nicholson, o pinguim de De Vitto e a mulher-gato de Pfeiffer. Criaturas estranhas de um mundo estranho, tornando Gotham similar ao país das maravilhas de Alice. E Burton se esbalda nessas figuras com as quais ele sabe lidar tão bem, criando assim o Batman da caricatura, tão semelhante àquele da série de tv dos anos 60.
Depois de alguns anos de esquecimento, renasce o mito. Christopher Nolan adapta o "Ano Um", de Miller, com estilo. Nasce "Batman Begins" e com ele uma das melhores sagas dos quadrinhos no cinema, pois foi com o 2º filme (Batman: Cavaleiro das Trevas) que Nolan reinventou o gênero. The Dark Knight mostrou ao mundo que filmes de super-heróis não são mais feitos para crianças. A simbologia presente no filme é arlamante, há uma procura por entender as mentes insanas. Afinal, o que queria o coringa? "Há certas pessoas que só querem ver o circo pegar fogo" assim tenta explicar o mordomo Alfred. Mas o coringa se mostra algo mais, ele tem uma ideologia a ser provada, ardualmente tenta mostrar o quão tênue é a linha entre o bem ou o mal. De acordo com o vilão, tudo depende das circunstâncias e ele vai fazer de tudo para provar o seu argumento. O primeiro passo do plano é corromper o incorruptível: Harvey Dent. O político é o cavaleiro branco de Gotham City, é aquilo que a cidade tem de melhor. Dent chega ao ponto de assumir a identidade de Batman diante da polícia para que assim o verdadeiro morcego possa trabalhar em paz. É o alvo perfeito do maníaco coringa. Para realizar o plano, o vilão mata Rachel, noiva de Harvey, através do acaso. Nada mais justo para Dent que a vida de todos os outros sejam também definidas por algo igualmente trivial.
O coringa no entanto, não para por aí. Milhões de dólares são queimados, a cidade é isolada, a política do caos é imposta. Seu objetivo maior é mostrar até que ponto a humanidade se segura. Porém, a segunda parte do seu jogo sádico falha. Gotham City demonstra nobreza e capacidade de superar a crise.
Mas a tranformação de Harvey Dent ainda representa uma vitória do vilão. Como manter a esperança na bondade se seu símbolo humano maior foi maculado e corrompido?
Então entra Batman, para salvar o dia mais uma vez ele deve assumir a culpa, e assim o faz. Tal ato de heroísmo é questionado pelo filho do Comissário Gordon, que o explica: "Ele é o herói que Gotham merece, mas não o que precisa agora. Então vamos caçá-lo porque ele aguenta. Pois ele não é nosso herói. Ele é um guardião silencioso, protetor atento. Um cavaleiro das trevas."
Muita boa analise.
ResponderExcluirAssim como gostei muito de ter visto os filmes do herói que acompanho as sagas desde muleque, foi bem legal ter lido seu post. Concordo e assino em baixo com quase tudo que você falou.
para mim o coringa é um vilão exemplar, o tipo de vilão que diverte e intriga ao mesmo tempo. Um "agente do caos". E não dá para negar que com Heath Ledger fazendo o papel dele, ficou muito mais foda ainda.