domingo, 27 de março de 2011

"Quero ver quem paga pra (a) gente ficar assim"

Estava eu, ontem, em uma aula de Sociologia. Abriu-se um debate sobre corrupção e ética. Achei muito interessante; as opiniões contrárias, divergentes e convergentes. Eu, com minha ainda pulsante timidez, não me "meti" naquilo tudo, com tantas pessoas tão diferentes (mas tão iguais). No final, me dei conta que na verdade aquela conversa organizada nada mais era do que uma metalinguagem: a sociedade falando dela mesma (ou a língua falando da própria língua, como preferir). Mas porque a sociedade abre tantas discursões acerca dela mesma e os problemas continuam lá SANGRANDO? (na verdade, estou fazendo a mesma coisa agora)
Uma coisa interessante é que as pessoas pensam e agem diferente - não necessariamente nessa ordem - e mesmo com isso a convergência de interesses e interpretações é absurdamente parecida. Vou dar um exemplo, (voltando ao debate da aula de sociologia) muitas pessoas concordaram que um ato de corrupção quando o objetivo é solidário "não faz tão mal". É um tanto quanto maquiavélico ("Os fins justificam os meios"). Um pai rouba feijão para o filho que não tem o que comer (foi isso que eu quis dizer com maquiavélico). Mas acho que a questão é mais profunda do que isso. Porque esse pai precisou chegar ao ponto de se humilhar roubando comida para o filho que chorava a três dias de fome em casa? Porque esse filho chorava de fome a três dias em casa?
Porque a sociedade não transforma esse tema em debate? Em vez de ficar julgando se o ato é corrupto ou não.
A questão é o seguinte, se você quiser ver pelo lado do pai - coitadinho - que precisa pôr comida em casa e o nosso modo de produção vigente não permite que ele esteja inserido no mercado de trabalho (ou até mesmo no mercado de "bicos", porque de "biqueiros" a rua já está cheia) e por isso ele precisa roubar, você caro leitor, enxerga por esse lado. Mas se você quer olhar pelo lado de que independente do fim o meio que ele usou foi errado, você pensa como um PM. Ok, brincadeiras sem graça a parte, a sociedade vai te recriminar e te segregar porque você acha errado o roubo em qualquer ocasião.
Essa é outra questão mais importante de ser discutida do que "é corrupção ou não é?". É tudo um questão do ângulo que você vê, é tudo relativo como diria Einstein.
Corrupção e ética a parte - porque é uma questão de ponto de vista, ou você vai contra a correnteza e acha que, independente, tudo é errado ou você concorda com Maquiavel.
Acho que a sociedade está caminhando em discursões equivocadas e estacionadas. Não devíamos discutir se é ético ou se é corrupto e sim porque é ético e porque é corrupto! Ou será que é mais importante decorrer sobre a cultura dos chipanzés do que sobre a cultura humana? (isso foi o assunto da minha segunda aula de sociologia do dia)
Será que é mais humano saber se "é ou não é" ou ser? Será que é mais humano agir ou ficar no nosso "ócio produtivo" e depois debater em sala de aula enquanto as pessoas que julgamos continuam roubando margarina para fritar um ovo.
Vamos abrir novas discursões, vamos debater novos assuntos, vamos chegar a conclusões diferentes de todas que existem, vamos "ser" em vez de perguntar: "somos"?

3 comentários:

  1. Hoje ou você se corrompe, ou omite. Ir a guerra, já não traz mais frutos. Discutir sobre hipocrisia, é ser hipócrita. Se esperarmos que as decisões comunitárias, que a maioria teoricamente pensaria em um plano, vamos ver a raça humana se despedaçar pouco a pouco, até o ponto de não podermos fazer mais nada. Para mim, a unica salvação são as atitudes individuais, pessoas que não esperam ajuda do governo, nem nada, e vão atrás de fazer a diferença sozinhas, mesmo que pouco, e assim motivando o vizinho, fazendo um efeito em cadeia não-oficial. O problema, é fazer os outros acreditarem que o pouco que elas fazem já é alguma coisa. Nenhuma solução é fácil, nenhuma solução é perfeita, mas todas são dignas de esperança.

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  2. Assunto da aula de sociologia de hoje: SOCIALIZAÇÃO. E esse assunto acabou batendo no ponto religioso...Pois bem, vi tanta gente falando que "minha religião mudou minha vida", "se não fosse por essa religião eu estaria PERDIDO!"... Mas quando perguntei: Será que foi preciso se prender à uma religião para que vocês se tornassem melhores? ........Todos responderam com ar de esquiva.
    A solução é a que o amigo MATHEUS XAVIER citou: atitudes individuais.

    Comentário perfeito feito por Carol da aula, enxerguei isso também.

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  3. Carol
    No seu comentário no trecho ao qual voçê citou: "interesses e interpretações é absurdamente parecidas esse é um fato que leva-se a questionar" é um fato que remete não só a singularidade do fato como também da problématica da socialização, o debate foi exatamente isso que voçê falou. Contudo, quando o assunto é para mecher na ferida ficamos impostos ao que já é regido em nossa sociedade, por mais que haja fatos parecidos há uma mudança no questionamento de cada significado. Absurdo é o fato de vermos "mendigos na rua e não tirá-los dela", esse sim que é um grande problema fora outros, e a culpa desse acontecimento é minha culpa, não só minha como sua, de nossa sociedade, enfim de todos cidadãos e cidadãs. Venhamos e convenhamos somos seres obedientes que não temos liberdade de autonomia, perante isso, como teremos o acesso a cultura, pois é nela que está inserida a educação, que é por meio desta que modificaremos e nos tornaremos seres libertados das amarras que nos prende a um passado e um presente nefasto de corrupção(como vc falou). Sejamos aguías desbravadoras de novos questionamentos e que construamos um país melhor!
    atenciosamente:
    EMANOEL CUNHA
    até o próximo seminário!

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